Basta o tempo ficar nublado para que a
lembrança dele se faça mais forte. Estando em casa, corremos a procurar o
bem-dito por todos os cantos sem, contudo, encontrá-lo. Saímos às ruas nos
desviando dos pingos d’água que caem justamente em nossas cabeças. Tentamos nos
proteger com as mãos, jornais, livros, enfim, com qualquer coisa que tivermos nas
mãos no momento em que somos surpreendidos pela chuva.
Outro dia tentei lembrar-me de quantos
guarda-chuvas comprei até hoje. Estimei que havia comprado pelo menos dois por
ano. Supondo que desde os quatorze anos eu os compro e que estou com cinquenta
e três, cheguei ao impressionante número de setenta e oito. Fiquei boquiaberto.
Eu, feliz proprietário de setenta e oito guarda-chuvas, sempre que chove estou
sem nenhum e termino por adquirir mais um.
Já tive guarda-chuvas de todos os tipos e
tamanhos. Pretos, cinzas, azuis, listrados, quadriculados, alegres e tristes. Grandes,
médios, pequenos e reduzidos, uma tentativa de tê-lo sempre na mochila e nunca mais
me molhar, mas que deixei em algum lugar que não lembro.
Quando converso com amigos e até mesmo
estranhos, vejo que compartilho do mesmo problema e da mesma perplexidade. Todo
mundo compra guarda-chuvas e os deixam em lugares desconhecidos. Parecem que eles são
tragados por um buraco negro.
Muitas teorias são
elaboradas para explicar o sumiço dos guarda-chuvas. Uma colega me disse que
eles vêm dos anéis de Saturno e para lá retornam sempre que nos descuidamos. Outro
me disse que eles são atraídos pelo Triangulo das Bermudas e lá penetram em um
portal que os levam para outra dimensão. Eu acredito que existe um exercito de anõezinhos
que os roubam e revendem para ambulantes que nos vendem para que sejam
novamente roubados e revendidos a ambulantes que nos vendem e...
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