Capítulo
1
O avião havia aterrissado a cerca de dez
minutos no Aeroporto Santos Dumont, na Cidade do Rio de Janeiro. O voo,
procedente de São Paulo, atrasou mais de meia hora em função do mau tempo,
impedindo a decolagem no Aeroporto de Congonhas.
Túlio andava de um lado para outro em frente
ao portão de desembarque massacrando um chiclete na boca. Receou que a pessoa
que esperava tivesse desistido, impedindo a concretização das ações que lhe
foram atribuídas. Quando os passageiros começaram a sair, os olhos treinados de
Túlio procuraram o homem com a descrição que lhe passaram: altura mediana,
entre vinte e cinco e trinta anos, branco, orelhas deformadas pelo arrasto no
tatame e uma singular tatuagem de labaredas lhe subindo pelo pescoço.
Túlio não tardou a identificar o sujeito
caminhando com passos decididos em direção à saída do aeroporto, talvez a
procura de um taxi. Túlio jogou na lixeira o pedaço de papel toalha que usou
para secar as mãos suadas e apressou os passos a fim de não perder o alvo de
vista. Antes de chegar ao ponto de taxi, o alcançou. Decidido, tocou no ombro
do homem fazendo com que ele se virasse em sua direção.
- Oi, tudo bem? – Túlio lhe abriu um sorriso.
- Quem é você? – a pergunta demonstrava mais
cuidados do que curiosidade.
- Túlio. Trabalho para Fábio. Carniça me
pediu para vir buscá-lo.
- Não foi esse o combinado. – disse o sujeito
arqueando uma das sobrancelhas.
- Acontece que Waldomiro já está no hotel e
tem que partir o mais rápido possível. Por isso Carniça me pediu para te
buscar.
- E onde está o carro?
- No estacionamento. – disse Túlio apontando
à esquerda.
O sujeito mordeu os lábios, transparecendo
desconfiança ante aquela mudança de planos. Por fim começou a caminhar na
direção apontada por Túlio, sendo seguido por ele.
Chegaram ao estacionamento onde Túlio apontou
um Renault Megane de cor preta e apertou o segredo existente na chave do carro
para destravar as portas.
- Coloque a sua mala no banco traseiro –
disse.
Ele assumiu o volante tendo seu acompanhante
sentado ao seu lado e saiu do estacionamento, seguindo em direção à zona sul.
O Renault mergulhou por baixo das pistas do
Aterro do Flamengo para fazer o contorno e pegar a pista no sentido Copacabana.
A força centrifuga produzida durante a curva espremeu o sujeito na porta,
obrigando-o a levar a mão esquerda ao painel para se equilibrar. Túlio manteve
uma das mãos segurando o volante. Com a outra pegou debaixo de seu banco uma
pistola com silenciador. Apontou de imediato para a cabeça do homem e apertou o
gatilho uma única vez. O sangue jorrou do furo provocado pelo projétil desenhando
uma borrasca vermelha na porta do carona. Túlio dirigiu mais alguns metros até
encontrar um Renault Clio parado no acostamento com as luzes do alerta
piscando. Parou o carro, pegou um pedaço de pano no banco traseiro e passou
pelo volante. Precisava limpar todo e qualquer vestígio que pudesse deixar de
sua presença. Saiu do carro e se dirigiu ao Clio. Abriu a porta dianteira e
sentou-se ao lado do motorista sumindo no transito denso daquele principio de
noite no Aterro do Flamengo.
Esse é o primeiro capítulo do livro "O Olhar Oblíquo do Medo" lançado em junho/2014 pela Editora Zap Book. O livro pode ser adquirido nas livrarias ou diretamente no site da editora: www.zapbook.com.br
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